quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Solidariedade: coexistência

Anderson Araújo
O filósofo John Stuart Mill esclarece em seu livro "Utilitarismo" alguns argumentos sobre a teoria ética do utilitarismo. Apresenta o utilitarismo como uma teoria ética que busca maximizar a felicidade geral, ou seja, "aumentar a felicidade da maioria das pessoas". Neste caso, ser utilitarista significa promover a felicidade geral. Para isso pode ser necessário o auto-sacrifício do agente, pois este teria que, em algumas situações, abdicar da sua felicidade para tornar outras pessoas felizes. 

É uma teoria que, sem dúvida, é totalmente contrária a uma postura egoísta. Por isso o utilitarismo é uma das teorias éticas mais altruístas que existe. Pois está sempre pensando na felicidade dos outros como objetivo (fim) das suas ações. 

Para Stuart Mill o ser humano tem uma natureza social. Isso significa que temos, naturalmente, uma empatia pelo outro (ser humano) e por este motivo, vamos sempre desejar o bem do outro. Logo, entre a minha felicidade e a felicidade da maioria, eu teria que optar pela segunda. Será que teríamos razões para defender esta ideia de que o ser humano possui uma natureza social? A experiência nos diz que, uma vez inseridos no processo de socialização, podemos aprender a conviver pacificamente com os outros. Mas esta mesma experiência também nos diz que o ser humano é bastante competitivo e tende quase sempre a pensar em si mesmo, até mesmo como estratégia de sobrevivência. 

Ser altruísta ou egoísta não seriam posições que dependem de educação? O altruísmo, ser solidário ao outro, é algo que se aprende ainda nas brincadeiras de criança: compartilhar o brinquedo com o amigo ou até mesmo doá-lo para as crianças carentes. A felicidade do outro torna-se minha preocupação quando aprendo que o outro pode não ter sido tão privilegiado o quanto eu fui. E aí descubro que há muitas razões para dividir o que tenho ou acumulo.

A teoria do utilitarismo é acusada de ser exigente. Mas Stuart Mill lembra que é apenas uma orientação e não um dever ou obrigação. Por isso você não será punido pelos outros por não ter sido solidário ou por não ter se sacrificado pela felicidade da maioria. Se temos uma natureza social, nós mesmos vamos nos punir -  a nossa consciência que vai nos dizer que poderíamos ter agido de outra maneira. Mais uma vez, entendo que esta consciência, ou se quisermos, culpa, só pode ser sentida por aqueles que foram educados na prática solidária. 

Stuart Mill ainda defende uma compatibilidade entre o utilitarismo e a justiça. Pois ambos preocupam-se com o contexto das ações humanas. Cada caso deve ser analisado de acordo com as circunstâncias. Algumas ações consideradas normalmente como ações moralmente ruins podem ser consideradas boas ou necessárias quando a vida e a felicidade de uma maioria está em jogo, como mentir para salvar a vida de alguém de um provável assassinato, ou o roubo de comida no caso de uma pessoa miserável e que está passando fome.

Uma conclusão provisória. A coexistência de pessoas felizes deveria ser um norteador de todo programa educacional, ético e de governo. Posso ser feliz com o outro sem que eu tenha que abrir mão da minha felicidade. Compartilhar, ser altruísta ou utilitarista pode ser fácil, sem que seja necessário o auto-sacrifício do agente. Basta aprendermos a seguir menos a lógica destrutiva do mercado da acumulação. Compartilhar e dividir o que se tem, e principalmente o que se acumula.