Por Anderson Araújo
Destaca-se a influência dos poemas homéricos na formação do homem grego, influência que se percebe na maneira de os gregos se organizarem e de se posicionarem entre si e internacionalmente, na política, na economia, socialmente e, sobretudo, na formação militar. Pretende-se enfatizar neste texto a influência ideológica, ou seja, a influência das obras na formação do espírito grego, quer dizer, do seu modo de pensar.
Homero compôs as suas obras por volta do ano de 700 a.C., apesar de narrar acontecimentos do ano de1200 a.C. Na Ilíada e na Odisséia, o poeta narra uma guerra entre gregos e troianos, narração que contém fatos possíveis de terem ocorridos realmente, e fatos que podemos chamar de lendas.
A guerra narrada é movida desde o início por paixão e coragem, que consiste no rapto de Helena pelo príncipe troiano. A história se desenvolve acerca deste fato, sobretudo na Ilíada e vai registrar uma outra característica sempre presente no espírito grego na época arcaica que é a estratégia.
O tema da estratégia é ainda mais presente na Odisséia, sobretudo no personagem de Ulisses que é citado por Homero como “o industrioso”. A vitória dos gregos sobre os troianos deveu-se à capacidade industriosa, isto é, de estratégia de Ulisses, ao projetar um cavalo de madeira como presente para os troianos. A Odisséia narra os feitos e a capacidade industriosa de Ulisses no seu regresso a Ítaca.
As obras em questão têm a sua importância na formação do homem grego, uma vez que as crianças eram educadas, iniciadas na leitura e na escrita através da Ilíada e da Odisséia.
Nesse sentido, o menino crescia, lendo os feitos de Aquiles na guerra e as estratégias de Ulisses para vencer a guerra e retornar a Ítaca. O homem grego (sobretudo o ateniense) cresce com o desejo de ser um herói, como nas obras homéricas. Isso o incentiva a treinar para lutar na defesa da sua cidade e na conquista de outras cidades.
O espírito grego é um espírito guerreiro. O jovem ateniense, por exemplo, considerado cidadão a partir dos 18 anos se filho de pais atenienses, é um guerreiro. É importante citar que o ateniense defende a sua cidade no sentido físico, porém com igual ou maior força defende a sua nacionalidade.
Essa ideologia, portanto, vai marcar a diferenciação entre os grupos (“classes”) atenienses, a saber, a diferença entre nobres e pobres. Apesar de os dois grupos terem acesso às obras homéricas e à educação, serão os nobres, aqueles que podem viver no ócio, que terão mais educação e meios para se tornarem melhores guerreiros.
Podemos citar os jogos em Olympia, as competições que os atenienses faziam no templo, momento de diversão mas, sobretudo de confirmação da supremacia dos aristoi (os nobres, “os melhores”) que, movidos pelo espírito competitivo e guerreiro dispunham de tempo e de uma alimentação melhor do que os cidadãos pobres que tinham que se dedicar mais ao trabalho para suprir suas necessidades básicas.
Aquele que terminava vitorioso na competição era equiparado a um herói das obras homéricas, tinha, pois, um prestígio político. Nas festas e nos discursos da cidade, o bom competidor era apresentado, citando a sua descendência (de heróis).
O sucesso do atleta, do político e até um determinado momento, do guerreiro, era aristocrático e não democrático. O cidadão pobre vai ganhar um prestígio e uma ascensão mais tarde, quando sua participação na guerra for necessária.
Assim, podemos concluir que a ideologia das obras homéricas, que são idealizações do guerreiro e do herói, tiveram grande força na educação do homem grego, principalmente na sua concepção de cidadão.