quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os homens e os animais: infidelidade no uso da liberdade

Por Anderson Araújo
Tenho um casal de cães de raça não definida, "vira-lata". Lassie e Kirchof completarão 15 anos em 2012. Encontrei a fêmea, ainda filhote e faminta, abandonada numa caixa de papelão na calçada. Hoje a Lassie dorme o dia inteiro, sai da casinha para comer e tomar banho de sol, não dá trabalho algum. Já o Kirchof, o encontrei também ainda filhote e na rua, fazia parte dos filhotes de uma cadela que pertencia a um morador de rua. 

O Kirchof está cego há dois anos, manca, tem artrite e artrose, por isso me dá mais trabalho. Mas como meu "amigo fiel" resolvi não abandoná-lo. 

O Natal, festa cristã, está próximo, uma época de comemorações e de férias. Muitas famílias viajam nesta época. E é nesta época que muitas pessoas abandonam os seus animais nas ruas ou os deixam famintos e também abandonados em casa. 

Além do abandono que é também uma forma de violência, assistimos a inúmeros casos de violência contra os animais, sobretudo nos últimos dias. Cães famintos que saltam de prédios porque foram abandonados, outros são arrastados por seus donos em carros como uma forma de punição. E ainda, uma mulher agride um cão até a morte!

Na filosofia defendemos a ideia da liberdade humana, esta fantástica e dramática possibilidade que o ser humano tem de poder fazer escolhas. Escolhas entre o bem e o mal, certo e errado etc. Independentemente da cultura e da moral de cada povo e de cada época que vai dizer se é certo ou errado, necessário ou contingente, pode-se dizer que os seres humanos têm mais condições de exercerem um domínio sobre os animais.

Os animais brigam entre si, manifestam "raiva" ou "poder" como forma de se protegerem dos outros animais e dos seres humanos. Os animais matam - mas por necessidade de sobrevivência e de proteção deles mesmos e da sua prole. Os seres humanos não só fazem o mal aos outros humanos, mas também aos animais, não por necessidade de sobrevivência e não apenas fazem o mal, mas abusam e torturam os outros. 

Os seres humanos que caçam, machucam e agridem os animais desejam apenas sentir o prazer em ver o outro sofrer, e/ou manifestam o seu poder no olhar submisso do animal. Muitos homens são ofendidos ou não são reconhecidos socialmente e se sentem fracassados, mas encontram na violência contra os animais um  modo de manifestarem o seu poder e de serem "obedecidos" e "reconhecidos".

Os animais, sobretudo domesticados, são submissos. O ser humano é livre e quando comete o mal comprova esta liberdade, mas comprova também que só se torna forte diante daqueles que são frágeis ou submissos.

Enquanto um ser humano que chega aos 15 anos está no início da vida, um cão de 15 anos é "demasiadamente" idoso. Esqueci de dizer no início do texto que muitas famílias abandonam seus pais ou avós também quando estão idosos ou doentes. Imagine o que não fariam com os seus animais? 

Apesar dos inúmeros conselhos que recebi, não vou abandonar o Kirchof.