quinta-feira, 27 de maio de 2010

Encantamento, Espanto e Admiração


Por Anderson Araújo

Os filósofos começaram a filosofar devido a uma atitude de espanto, estranhamento e encantamento, nos diz o filósofo Aristóteles. Estas palavras são possíveis variações obtidas pela tradução do verbo grego "thaumatzein". Em outras palavras, podemos dizer que o que move o filósofo é esta atitude de espanto diante do mundo e das coisas.

O mundo se apresenta enigmático, misterioso e estranho aos olhos de um filósofo. Por isso, filosofar é uma atitude de questionamento e de investigação das coisas comuns e experimentadas como "óbvias" pela maioria das pessoas. É verdade que precisamos nos acostumar com algumas coisas para agirmos no cotidiano. Certos automatismos garantem a nossa boa sobrevivência. Mas também impedem a reflexão e nos deixam mais robóticos e menos humanos.

Sempre digo que há coisas, imagens e aspectos diferentes, seja das paisagens ou das pessoas, no caminho que fazemos quando saímos de casa ou quando para ela voltamos. Uma postura filosófica é também vigilante, sobretudo contra o olhar viciado. A vida fica sem graça quando deixamos de ver coisas diferentes no mundo. O óbvio rouba o brilho dos nossos olhos.

Os fenômenos da natureza nos causam espanto e admiração, o pôr-do-sol por exemplo. O ciclo da vida e o comportamento humano também. A capacidade humana de fazer o mal nos assombra, mas a sua capacidade de doar-se e de cuidar da vida nos encanta. Estas atitudes também são características da ciência. Por isso a ciência sempre avança por meio de novas pesquisas sobre um objeto já inúmeras vezes estudado.

Experimentar o mundo com outros olhos é um modo de resignificá-lo, dar novos sentidos às coisas. Isso nos torna mais criativos, mas artistas, enfim, mais humanos. Além disso, penso que também é uma atitude nobre. O contrário, uma vida acostumada e confortável no mundo, é quase sempre triste, sem sabor, sem encantamento, por isso pobre de espírito.

(Imagem: "A noite estrelada" de Vincent Van Gogh, 1889)





terça-feira, 25 de maio de 2010

Na Natureza Selvagem

Por Anderson Araújo


O melhor filme que já vi até hoje. Já vi quase 10 vezes. O filme foi indicado pela amiga Júnia há 2 anos quando ainda estava em cartaz no cinema.

Você tem vontade de realizar grandes viagens? Ou de tomar importantes e necessárias decisões na sua vida? Falta alegria ou sobra alegria em sua vida? Em Na Natureza Selvagem, não só fazemos uma viagem ao Alaska com o jovem Christopher McCandless, ou "Alex", mas uma viagem em nós mesmos.

Medos, sonhos, angústias, família e... a busca pela felicidade! Libertador! Arrebatador! É difícil continuar o mesmo depois deste filme! Em breve, depois de vê-lo pela décima vez, postarei um texto aqui. Confira o trailer!

sábado, 22 de maio de 2010

O Drama Humano da Liberdade

Por Anderson Araújo

Poema de José Paulo Paes

"a torneira seca
(mas pior: a falta de sede)

a luz apagada
(mas pior: o gosto do escuro)

a porta fechada
(mas pior: a chave por dentro)"

O José Paulo conseguiu exprimir dramaticamente o problema da liberdade nos versos acima. O poema demonstra como somos livres mesmo em situações que optamos em não escolher, ou mesmo quando a escolha é negativa. Em outra situações, uma porta fechada seria condição de desespero e de tristeza. Mas neste caso, não se pretende abrir a porta, pois sabe-se que a chave está por dentro.

Este poema me lembrou a frase de uma pessoa de personalidade bastante excêntrica: "Ficar deprimido um dia é normal. Todo mundo tem direito. Mas ficar deprimido mais de 24h é brega".

É o drama humano da liberdade!

Penso que uma atitude afirmativa contra a letargia ficaria assim: "Tenho muita sede: que bom, há muita água! Muito escuro aqui dentro: mas que sol fantástico lá fora! Ah, a porta está fechada: mas a chave está aqui! Uau, vou vazar!"

Letargia: sonolência mórbida profunda, desânimo, preguiça.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Tio Zé e a Filosofia

Por Anderson Araújo

Há alguns dias conheci o tio Zé, lá de Goiás, irmão da vovó Edite. Homem matuto e de muita sensibilidade, acostumado à vida no campo, gente que lê os sinais da natureza melhor do que meteorologista. Eu sempre soube da fama do tio Zé de "contador de causos".

Naquela manhã de sábado estava disposto a ouvir suas histórias e causos. Primeiro, ele contou que lá em Goiás, na sua fazenda, dá tanto peixe que se pega com as mãos na "beirada" da lagoa. E dentre outros causos, ele também contou que os celulares fazem parte mesmo da vida dos habitantes na sua cidade em Goiás. Certa vez, encontrou um cachorrinho mancando, quando foi ver, o cachorrinho estava falando com a namorada no celular. Bom, é verdade que a história da lagoa dá para acreditar, mas a do cachorrinho...

Depois de muita risada, questionamos o tio Zé, com todo respeito, de onde vinha a capacidade de contar mentiras. Então ele disse: "A verdade é pouca. Se a gente não inventar, a gente fica sem assunto. A conversa acaba e não tem como passar o dia. Vai ficar contando só verdade? O assunto acaba".

Para mim, o tio Zé tinha acabado de contar uma verdade filosófica. Em outras palavras, ele tinha acabado de sintetizar livros e tratados de filosofia numa única frase: "A verdade é pouca". "A gente precisa inventar". Pois, a filosofia se não for a busca pela verdade, é um esforço para mostrar que muitas teorias ou conceitos tidos como verdades, não são verdadeiros, são inventados. Muitas verdades não passam de crenças, invenções. Ou seja, habituamo-nos a teorias que nos são transmitidas e ensinadas, seja pela tradição ou pelos meios de comunicação, sem questionarmos a verdade. Disso decorrem várias críticas, como a de Karl Marx às ideologias.

Se podemos encontrar a verdade é outra história, investigada em bons e longos tratados. Mas ter consciência da "invenção da verdade" já é um importante passo e uma nobre postura filosófica. A teoria do tio Zé não só me lembrou a minha dissertação de mestrado, mas também me ajudou a encarar o problema da verdade com mais leveza.

domingo, 16 de maio de 2010

Sentimento

Por Anderson Araújo

Estudar fica mais leve e mais prazeroso quando reconhecemos o valor do estudo entre outros valores. Por que será tão difícil criar a disciplina ou o hábito de sentar e ler um livro ou fazer uma tarefa? Porque isso geralmente lembra uma condenação para muitas pessoas. Porque a nossa cultura habituou-se em castigar as crianças por meio dos estudos. O ato de estudar deve ser algo prazeroso, como uma brincadeira, sobretudo porque brincadeira de criança é muito séria: só pode brincar quem aceita a verdade contida no "faz de conta".

(A arte na pedra é do "Frater Henrique"- Igarapé/MG).

terça-feira, 11 de maio de 2010

A Consciência Ética em Gandhi e o Método da Não-violência

Por Anderson Araújo


A história nos revela exemplos de homens que lutaram pela paz no mundo e pela liberdade humana. Gandhi se destaca na história por seu amor e dedicação à vida, por seu cuidado com todas as coisas que existem no mundo. Podemos dizer que Gandhi possuía uma consciência ética.

Gandhi, em princípio, lutou pela independência da Índia. É o que podemos falar, resumidamente, da vida deste homem. Porém, ao lutar pela independência da Índia, Gandhi o fez também pela independência do homem inglês que explorava a Índia, pela independência do homem europeu, enfim, pela independência do ser humano!

Mas, Gandhi também teria lutado pela independência dos exploradores da Índia, isto é, pelos ingleses? Conhecemos a história e sabemos que Gandhi lutara tão somente pela independência da Índia. Mas, o método, isto é, o caminho que ele utilizou para lutar pela independência do seu país é marcado por uma preocupação não só com o seu povo, os indianos, mas com o ser humano. O objetivo de Gandhi nesta luta foi a liberdade e a paz para o ser humano, e não apenas para o seu povo.

O caminho utilizado por Gandhi: a não-violência. Não-violência não significa passividade, ou resignação, mas uma luta mais ativa que a luta armada. Porque só homens disciplinados, de bons hábitos, conhecedores de si mesmos e dos seus ideais e, portanto, da sua causa, podem utilizar o método da não-violência. Gandhi sabia que uma boa ação, realizada uma única vez não faria diferença na vida do seu povo. É preciso ser bom sempre, respeitar todos os dias a natureza e a vida; mostrar-se indignado todos os dias com a mentira e o egoísmo e, certamente o mais importante: é preciso dialogar sempre!

Gandhi ensinou a virtude para o mundo inteiro, ensinou-nos como podemos ser livres e como podemos cuidar da morada humana, isto é, como podemos ser éticos. Porque o mundo, que é a morada comum a todos os homens, não depende apenas do gesto de uma pessoa para que ele continue habitável, mas do esforço de todos os seres humanos, de gestos simples; jogar uma casca de banana na lixeira, dizer um bom dia ao outro e pedir perdão aos nossos pais, aos nossos filhos, e aos nossos amigos.

Há um provérbio que diz: Não é a chuva forte que nos dá uma boa colheita, mas aquela chuva que cai mansinha todos os dias sobre os nossos campos. É urgente que sigamos o exemplo de Gandhi, pois só teremos uma boa colheita, ou seja, só colheremos a paz e a liberdade se regarmos todos os dias as nossas vidas com diálogo e boas ações.

O filósofo Michael Foucault diz que não existe o poder. Mas, relações de poder. Porque o poder circula entre as pessoas. E é o que caracteriza a liberdade. Assim, por exemplo, num diálogo, quando escutamos, silenciosamente, o que o outro fala, damos ao outro o poder de falar.

Hannah Arendt, também filósofa, nos ensina que, se o poder foi tomado por uma pessoa, não há poder, mas violência. Porque o poder não pode ser tomado, mas dado. Assim, quando elegemos um representante, damos à outra pessoa o poder de nos representar. Arendt escreve: “A forma extrema de poder é o todos contra um. A forma extrema da violência é o um contra todos (...) A violência de um contra todos nunca é possível sem armas. A violência distingue-se por seu caráter instrumental”.(Hannah Arendt, Sobre a Violência).

Assim, aprendemos com os filósofos que, quando agimos com violência verbal ou física, estamos distanciando-nos do poder, e afastando-nos do que nos faz humanos; da capacidade de nos expressarmos através do diálogo. Gandhi também nos ensina isso, mas vai além. Mahatma Gandhi, “grande alma”, como foi chamado, nos ensina que um ato violento é injustificável, e que um bom soldado é um homem virtuoso que se cultiva com bons hábitos e pratica boas ações.

“Considero-me um soldado, mas um soldado da paz”. (Gandhi)

HISTÓRIA

Para quem tiver interesse em conhecer melhor a vida de Gandhi:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Mahatma_Gandhi



quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Que é o Tempo?

Por Anderson Araújo

Santo Agostinho, um filósofo cristão, elabora um pensamento divertido e interessante sobre o TEMPO. Primeiramente, Agostinho se faz a seguinte pergunta: “O que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?” Através dessa pergunta o filósofo chegou a soluções geniais, que se tornaram muito famosas.


Antes de Deus criar o céu e a terra não havia tempo e, portanto, não se pode falar de um “antes” antes da criação do tempo. O tempo é criação de Deus e, por isso, a pergunta proposta não tem sentido. Mas, vamos insistir com Agostinho, então, o que é o tempo?


O tempo implica passado, presente e futuro. Mas o passado não é mais e o futuro não é ainda. E o presente, diz Agostinho, “se fosse sempre e não transcorresse para o passado, não seria mais tempo, mas eternidade”.


Para Agostinho, o tempo existe na mente do homem, porque é na mente do homem que se mantém presentes tanto o passado como o presente e o futuro. E de qualquer forma, é na nossa mente que se encontram esses três tempos, que não são vistos em outra parte: o presente do passado, que é a memória; o presente do presente, isto é, a intuição; o presente do futuro, ou seja, a espera.


Os sábios e os filósofos nos ensinam que a qualidade de vida depende da nossa capacidade de aproveitar o tempo. Ou seja, vive melhor quem sabe aproveitar o seu tempo.


Os antigos diziam uma frase em latim muito interessante sobre isso: “Carpe diem”, que significa: “Aproveite o seu dia”, “Aproveite o seu tempo”. Mas aproveitar o tempo, ou aproveitar o dia, é fazer sempre o que gostamos? Parece-me que aproveitar o tempo é fazer o que é necessário fazer em cada momento. Pois, a pessoa que deixa tudo para a última hora sofre tentando manipular o tempo. Logo, não vive bem. Carpe diem!