Por Anderson Araújo
É difícil definir exatamente o que estamos sentindo numa época que ocorrem mudanças tão rápidas! Não dá tempo para sentir o presente, nem a dor, nem a alegria. O mesmo telejornal que anuncia a morte de alguém, também anuncia em instantes, o nascimento e a vida. O mesmo programa que incentiva as pessoas a praticarem esportes, também incentiva o consumismo. Já notaram a quantidade de programas relacionados à culinária? Somos pressionados: a comer, a consumir, a correr, a economizar e, a amar.
Notem que somos "pressionados", intimidados a seguir o "rebanho", ou se quiserem, a "massa". Celulares e carros descartáveis. Precisamos estudar, fazer concursos, bater recordes, superar metas e também amar. Uma sociedade que incentiva o consumo não nos ensina a amar, não nos ensina a sermos "inteiros". Nesta sociedade de revistas eletrônicas somos apenas marionetes, jogados aqui e ali para comprar!
Se nós, adultos, temos "pouco" tempo ou poucas condições de refletirmos sobre tudo o que está ocorrendo, como uma criança poderá, sozinha, pensar sobre as armadilhas da TV, da internet e das redes sociais? Muitos pais estão abandonando seus filhos em casa, "seguros", diante da TV e dos computadores. Não há pessoa alguma ao lado delas para dizer que a propaganda é enganosa, não há ninguém perto delas para dizer que você não vai ficar tão bonita quanto aquela atriz se você usar aquele produto. É o pai, a mãe, ou o "cuidador" que vai situar a criança na vida "como ela é".
E a "vida como ela é" exige esforço, treino, dedicação, trabalho e transpiração caso você queira comprar coisas, emagrecer, ganhar massa, formar-se e ter uma profissão. A vida é dor e alegria, nascimento e morte. Não somos personagens de desenhos animados: nós nos machucamos quando caímos. Sentimos tristeza. Sofremos com a morte dos outros, sofremos com a dor dos outros ao nosso redor. A dor provoca tristeza, mas é um sentimento que nos aproxima de nós mesmos e daqueles que realmente são significativos em nossas vidas. É importante SENTIR.
Quantos lutos não vividos, não sentidos...
Nesta obrigação de sermos felizes a todo custo vamos distanciando-nos de nós mesmos, dos nossos amigos, dos nossos pais e dos nossos filhos. A felicidade que as revistas e os programas de TV mostram é uma felicidade "instantânea", "imediata". O que nos ensinam é que há apenas um modelo de felicidade. E, ao seguir este modelo, você deve consumir. Mas não existe apenas um meio de ser feliz ou um caminho para a felicidade. A sua felicidade deve ser construída, inventada por você. Não há receita, não há modelo. Assim, para uma pessoa a felicidade pode consistir em diversos projetos de vida. Enquanto para outra não é necessário um projeto de vida, mas apenas viver o presente.
José pode ser feliz cuidando da terra, plantando, colhendo ou capinando um lote. Maria pode ser feliz cozinhando para uma família ou para seus filhos. João encontra a sua felicidade jogando bola com os seus amigos. Luiz se realiza cuidando da segurança da sua cidade. Caetano se sente feliz compondo e cantando. Neste sentido, a felicidade de algumas pessoas consiste em contribuir para a felicidade dos outros, ou não. O mais importante é perceber que cada pessoa é livre para encontrar o seu caminho, para encontrar a sua felicidade, seja na TV, no futebol, na empresa ou na escola. E que se é livre mesmo quando escolhemos trilhar os caminhos que os outros fizeram para nós.
Por isso o maior desafio para todos é, antes de educar o outro, educar-se. Educar-se significa também estar preparado para perceber que não estamos "prontos". Estamos "em construção" constante. Não somos perfeitos. Somos suscetíveis e influenciáveis. Daí a necessidade de abrir a mente para outras perspectivas, para novas leituras, viagens e conhecimentos. Se estamos "em construção", estamos aprendendo a amar também. Sentimos raiva, dor, amor, alegria e tristeza. Decepcionamo-nos e decepcionamos os outros. Mas podemos nos tornar pessoas melhores. Conscientizar-se disso pode tornar a construção mais forte. Saber disso pode nos ajudar a perceber as pressões externas e a fugir delas. Conscientizar-se disso pode nos ensinar a amar.
É neste processo de formação de si mesmo que o pai, a mãe e o educador vão se tornar "preparados" para educar. O carinho, o amor e a presença dos pais tornam-se mais importantes do que o presente. Tomar sorvete na praça é mais barato. Além disso, na praça você está mais presente do que no shopping. Assistir ao pôr-do-sol leva você para dentro de si mesmo. Ir ao shopping pode ser divertido mas leva você para fora de si mesmo. Consumir "doses" de felicidade custa caro, enquanto não é necessário pagar para amar.