Por Anderson Araújo
A renúncia do Papa Bento XVI pegou não apenas o "povo" de surpresa, mas também a Igreja Católica no mundo inteiro. A infalibilidade papal pode significar outras coisas no âmbito político e religioso, mas para mim tem mais a ver com humanidade. Independentemente dos motivos que levaram Bento XVI a renunciar, e independentemente de você ser católico ou não, e de o Papa significar alguma coisa pra você, certamente este "evento" tem muito a nos dizer.
Como líder religioso, influencia, embora com menos intensidade do que no passado, mesmo países e povos que não são considerados católicos. O Papa, sobretudo a partir de João Paulo II, passou a ser um "mediador" não somente entre os homens e Deus, mas principalmente um mediador de conflitos entre os homens, função que João Paulo II tentou desempenhar em alguns momentos.
De um lado esta renúncia provoca nas pessoas, mesmo naquelas que não são católicas, uma sensação de desamparo, desolação! "Um líder renunciar?" Ou, em outras palavras, "desistir"? As pessoas não se cansam de procurar em seus líderes religiosos, consolo, setas, ou caminhos que levem-nas a encontrar a paz, o consolo e até mesmo a salvação da alma.
De outro lado, a declaração de Bento XVI me soa bastante humana, demasiada humana. É como se ele dissesse: "sou homem, humano, falível, ao contrário do que boa parte das pessoas pensam". "Tenho medo, também fico doente". "Envelheço". "Sinto-me fraco também na velhice". E talvez Bento XVI pretenderia dizer também que: "me sinto só", "me sinto algumas vezes desolado, sem Deus".
Sua renúncia, Bento XVI, poderia significar não apenas discordância entre o senhor e os membros da Igreja, o que seria apenas uma discordância política, teológica e ideológica. Poderia significar também: "Cansei, não dou conta mais, é muita violência, é muita desumanidade, é muito egoísmo no mundo, não dou conta mais de 'representar' aquele que daria conta de carregar tudo isso".
Para mim, volto a dizer, independente das causas que motivaram esta decisão, a voz de Bento XVI significa a voz dos excluídos, dos miseráveis, daqueles que sofrem, que imploram por ajuda, e mesmo das pessoas que têm tudo, bens materiais, emprego, sucesso, carreira, mas não têm amor, não se sentem amadas, enfim, que diversas vezes têm vontade de dizer: "não dou conta mais". "Cansei". "Sou humano".
Muitos líderes, religiosos, chefes, pais de família e muita gente que ocupa posições de destaque, ou cargos de responsabilidade e de "poder" já tiveram e terão vontade de renunciar. Ter esta vontade ou realizá-la me soa muito humano. Talvez um dos muitos ensinamentos que este evento a princípio nos traz é este: somos falíveis, somos humanos, amamos, sonhamos, conquistamos, trabalhamos, lutamos, e queremos o melhor para o mundo e para nós, mas também cansamos, sofremos, e "desistimos". E isso não prova que você não esteja preparado para liderar, mas que você entende de gente, entende de humanidade.