Por Anderson Araújo
Espanto, terror, angústia e tristeza. É o que se sente diariamente lendo jornais, assistindo TV e acessando redes sociais. Tenta-se ver pelo lado positivo: "ah, as pessoas estão se expressando". Ou: "os jovens estão escrevendo mal, mas pelo menos escrevem". Entretanto, embora haja um acesso democrático a diversos tipos de informação, não há ética alguma na divulgação da informação.
Muitos profissionais e, principalmente alguns jornalistas, tratam o outro, o entrevistado, a vítima, o cidadão, como se fosse uma coisa, um objeto; o que assistimos a todo instante é a coisificação, a reificação do humano. Jô Soares foi execrado nas redes sociais por ter sido educado em sua entrevista com a presidente do Brasil. Artistas têm suas vidas constantemente vigiadas, suas intimidades sequestradas por câmeras e por falsos amigos. Além disso, tornou-se moda expressar que se tem "orgulho de ser hetero", ou "orgulho de ser gay". Sem falar na classificação, no mínimo "agressiva", que algumas pessoas insistem em atribuir às posições partidárias no Brasil.
Enquanto isso, nossos representantes políticos travam batalhas intensas sobre a maioridade penal e questões relativas à homofobia. E então, arma-se a tenda. E muitos da plateia "entram na briga" com os dedos no teclado ou na tela de seus celulares para destilarem o seu ódio! E quem ganha com isso? Nossos representantes políticos que mais uma vez conseguem desviar o foco da população. Brilhantes estrategistas. Sabem que o ser humano é atraído por questões afetivas, calorosas. Sabem que as pessoas se preocupam mais com aquilo que toca seus preconceitos, suas decepções, frustrações e sentimentos, do que com números e argumentações fundamentadas racionalmente. "Enquanto isso, nobre deputado, eles se esquecem do aumento da passagem, da reforma agrária e da reforma política".
Sim, enquanto todos se "alfinetam" e se agridem com palavras e palavrões, nossos representantes políticos deixam de trabalhar com questões urgentes e que poderiam mudar o futuro do nosso país.
Sim, temas como a homofobia e a maioridade penal devem ser discutidos, mas racionalmente, com respeito às pessoas e às diferenças.
A homofobia é realidade. Há pessoas homofóbicas, com aversão a homossexuais, com ódio e raiva de homossexuais. Muitas chegam a agredir fisicamente homossexuais. De outro lado, temos também como realidade a prática de crimes por crianças e adolescentes. Temos relatos de pessoas que já foram agredidas, assaltadas por menores de 18 anos, e ainda mais chocante, temos notícias de crimes bárbaros que tiveram menores de 18 anos como autores ou coautores.
Porém, há uma realidade que precisa ser debatida com mais urgência ainda. Nossas leis, quando punem, não o fazem exemplarmente. Nossas prisões, quando prendem, não são "restauradoras", não servem para reabilitar pessoas, pelo contrário, em grande medida são laboratórios ou "graduações" para criminosos. Logo, outras questões deveriam fazer parte da agenda política no momento atual, tais como: "o que o Brasil faz com seus criminosos?". "O que o Brasil deveria fazer com seus criminosos para que outras pessoas não sejam motivadas a cometer crimes?". Como "recuperar", e "de qual tipo de criminoso pode-se esperar uma recuperação?".
As respostas para estas questões nos levariam também para soluções mais coerentes para a violência contra mulheres, negros, idosos e homossexuais. Sociologicamente, estes grupos são classificados como minorias sociais porque não têm seus direitos de cidadãos e seres humanos respeitados. Por isso temos os chamados "estatutos", leis e políticas públicas que foram criados para garantir que esses grupos sejam respeitados e tenham acesso a diversas coisas, como a universidades, por exemplo.
Reduzir a maioridade penal num país que não "pune" exemplarmente seus maiores - definitivamente não é a solução. Reduzir a maioridade penal num país que não "restaura" a pessoa que cometeu um crime - definitivamente não é a solução. Enquanto não há punição rigorosa, há o aumento da sensação de impunidade na população. Enquanto não há "restauração" do criminoso, aumenta o ódio, a vontade de vingança, a insatisfação de se viver num país tão desigual, e, ao mesmo tempo, aumenta a vontade de levar vantagem, de ser "esperto".
O criminoso é um ser humano. O cidadão é um ser humano. Idosos, mulheres, negros e homossexuais são seres humanos. O Jô Soares é um ser humano. A presidente do Brasil é um ser humano. As leis devem servir para promover a vida, com dignidade de todo e qualquer ser humano. Do mesmo modo, devem servir também para punir, "restaurando" todo ser humano.
Quando o Estatuto da Criança e do Adolescente for respeitado e cumprido; quando adultos - maiores de 18 anos - forem realmente punidos pelos crimes que cometeram; quando todo tipo de crime contra a vida for exemplarmente julgado e punido; veremos que não será necessário nem reduzir a maioridade penal; nem criar leis para garantir que o direito de negros e homossexuais seja respeitado.
Agressões verbais e físicas a homossexuais nos causam indignação. Assim como agressões verbais e promessas virtuais e reais de linchamento contra seres humanos. Parece que questões tão polêmicas e tão humanas têm servido tão somente para entreter a população, assim como os monarcas utilizavam os bobos da corte para divertir os súditos. Mas sempre foi deles mesmos que riam, quando riam do bobo. Será que somos obrigados a respeitar a agenda dos nossos representantes políticos ou deveríamos propor a agenda? Talvez seja a hora de devolver a piada e dizer que sabemos que é o nosso trabalho que constrói o país e sustenta nossos "servidores", nossos representantes que devem legislar e governar para todos, defendendo a vida e a justiça. Certamente, é o momento de propor a ética, o respeito a todo ser humano, independentemente de orientação sexual, de opção partidária e de religião.
Quem é o bobo da corte no cenário atual? Quais são os bobos da corte estrategicamente selecionados por alguns meios de comunicação e pelos principais atores políticos? Enquanto todos assistem aos espetáculos dos bobos da corte, o que fazem tantos outros políticos eleitos que, semelhantes aos monarcas, independentemente da situação econômica do nosso país, continuam ganhando seus salários milionários, continuam recebendo seus benefícios assustadoramente generosos?
Tais questões não pretendem disseminar o ódio ou a revolta contra pessoas ou grupos. São pontos de partida para reflexões sobre a alienação a que somos envolvidos no cotidiano. A partir da conscientização da real situação que vivemos, poderemos tomar decisões mais coerentes sobre a vida em sociedade, na convivência com os outros. Atitudes simples podem ser sinal do que chamamos de cidadania, a começar pelo uso ético das redes sociais. Antes de "compartilhar", veja se é verdade. Compartilhe ações afirmativas. Denuncie fatos verídicos. Leia mais de um jornal, recorra a opiniões diversas sobre um determinado tema para extrair uma conclusão. E, antes de dar a sua opinião, antes de dizer se é "contra" ou "a favor", não se esqueça de que você tem o direito de ter um tempo para pensar sobre o que acontece, e que muitas vezes, ainda não houve tempo suficiente e "informações" ou "provas" suficientes para você chegar a uma conclusão; muito menos para julgar ou incriminar alguém.
Quem é o bobo da corte no cenário atual? Quais são os bobos da corte estrategicamente selecionados por alguns meios de comunicação e pelos principais atores políticos? Enquanto todos assistem aos espetáculos dos bobos da corte, o que fazem tantos outros políticos eleitos que, semelhantes aos monarcas, independentemente da situação econômica do nosso país, continuam ganhando seus salários milionários, continuam recebendo seus benefícios assustadoramente generosos?
Tais questões não pretendem disseminar o ódio ou a revolta contra pessoas ou grupos. São pontos de partida para reflexões sobre a alienação a que somos envolvidos no cotidiano. A partir da conscientização da real situação que vivemos, poderemos tomar decisões mais coerentes sobre a vida em sociedade, na convivência com os outros. Atitudes simples podem ser sinal do que chamamos de cidadania, a começar pelo uso ético das redes sociais. Antes de "compartilhar", veja se é verdade. Compartilhe ações afirmativas. Denuncie fatos verídicos. Leia mais de um jornal, recorra a opiniões diversas sobre um determinado tema para extrair uma conclusão. E, antes de dar a sua opinião, antes de dizer se é "contra" ou "a favor", não se esqueça de que você tem o direito de ter um tempo para pensar sobre o que acontece, e que muitas vezes, ainda não houve tempo suficiente e "informações" ou "provas" suficientes para você chegar a uma conclusão; muito menos para julgar ou incriminar alguém.