Por Anderson Araújo
(Para Guilherme Colombini e Wanessa Lima)
(Para Guilherme Colombini e Wanessa Lima)
Há meses pretendo escrever sobre o que penso em relação ao Brasil nas vésperas da Copa das Confederações, sobre este Brasil que se prepara para sediar uma Copa do Mundo. Não gostaria de ser desagradável, pessimista, alguém que não consegue perceber "o lado bom" das coisas. Sempre tento dar um novo significado às coisas que me aparecem como "feias", "tristes", "negativas", postura que aprendi lendo o filósofo Nietzsche.
Todo mundo já deve ter pronunciado a frase "imagina na Copa?" alguma vez nos últimos meses. Principalmente em conversas sobre trânsito, filas, comércio, hospedagens, e agora sobre os estádios, quer dizer, ARENAS "padrão FIFA".
Perdoem-me, mas quem não se "impactou" ou não se sentiu "incomodado" com o valor gasto nas obras dos estádios, não tem consciência de como vivem ou sobrevivem milhões de brasileiros. Dinheiro público investido em "arenas". Sim, há melhorias que veremos a médio ou longo prazo, como algumas modificações no trânsito, implantação de "BRT" etc, mas pouco significativas diante da carência do povo brasileiro.
Continuo tentando ver o "lado bom", porém, até as entrevistas do técnico da Seleção Brasileira de Futebol, desde o anúncio da sua contratação conseguiram "atrapalhar" ainda mais a "festa", mostrando-se sempre mal-educado, ensinando com isso que um técnico, um chefe, um líder autoritário, não pode ser questionado, não aceita opiniões e que, independentemente dos resultados, vai se manter no "cargo".
As propagandas tentam constranger todos os críticos desse evento que o Brasil vai sediar. Elas sugerem que pessoas que perguntam "imagina na Copa?" são pessimistas, "gente" que não gosta de festa.
Imagina a festa dos grandes empresários, dos nossos representantes políticos e das empresas que financiam o espetáculo; imagina a festa das empresas que já administram estádios "padrão FIFA" reformados e construídos com dinheiro público...
Que festa vai fazer o trabalhador que, após um longo dia de trabalho, continuará enfrentando um trânsito desumano na volta para casa? A verdadeira questão deveria ser: "Quem terá condições de participar dessa 'festa' que vem sendo planejada com tanto empenho pelos nossos representantes políticos e pelas empresas?"
Nesta minha tentativa de abordar o assunto sem ser constrangido pelas propagandas que me impedem de ser pessimista em relação à "festa", consegui dar um novo significado e ver o "lado bom" desse evento. Notei que todas os preparativos para a "festa", inauguração de estádios, e obras que se estenderão até 2014, servem para "impactar", ou em outras palavras, "acordar" todos aqueles que ainda não perceberam a capacidade que o Brasil tem de ser um país melhor. Indiscutivelmente o Brasil tem muita gente com disposição para trabalhar, construir, ajudar, e de melhorar a situação do seu próprio país e tem hoje, ao contrário de muitos países que vivem uma enorme crise financeira, dinheiro e investimento de grandes empresas!
Imagina se os nossos governantes se esforçassem para reformar e construir, creches, escolas e hospitais? Imagina a festa!
Imagina se fossem criadas várias equipes e comissões para investigarem efetivamente o funcionamento das nossas escolas e dos nossos hospitais? Imagina a festa!
Imagina se o Estado fizesse uma parceria com as empresas para construir escolas e hospitais? Imagina a festa!
Imagina se nós, brasileiros, tivéssemos realmente um espírito nacionalista e fizéssemos reivindicações pela saúde e pela educação aos representantes que elegemos? Imagina a festa!
Imagina se nós tivéssemos tanto interesse pelo desempenho dos nossos representantes políticos igual ao que temos pelo desempenho da Seleção Brasileira de Futebol? Imagina a festa!
Imagina se milhares de brasileiros deixassem de sofrer e de morrer nas filas de hospitais? Imagina a festa!
Imagina se você tivesse uma escola pública de qualidade que lhe capacitasse para entrar numa Universidade Federal sem ser necessária uma política de cotas? Imagina a festa!
Imagina se os impostos que o brasileiro paga todos os dias se transformassem em serviços gratuitos de qualidade para o brasileiro? Imagina a festa!
Constrangimento é imaginar que só poderemos fazer a festa no período da Copa do Mundo!
2 comentários:
Grande texto professor! Eu sempre tentei achar o "lado bom" também e agora me mostraste. É mesmo, o Brasil é uma grande economia, se ao menos o Estado fosse capaz de se importar com o povo, tudo seria melhor. Escolas, hospitais, moradia, o brasileiro teria TUDO se ao menos se importasse um pouquinho com o país ao invés de querer somente GOL! E isso é difícil de mostrar para as pessoas, no momento em que o futebol é um meio de controle de massas.
Grande karel, obrigado pelo comentário! Parece que nossas "imaginações" foram compartilhadas por outras pessoas que até deixaram o futebol de lado! Um abraço
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