terça-feira, 15 de outubro de 2013

Professores e Alunos: Super-heróis ou Construtores do Conhecimento?

Por Anderson Araújo
(Para Eni Maria)
Quando comecei a lecionar me surpreendi com várias situações em sala de sala. Não é que hoje não me surpreenda mais, pelo contrário, continuo a me surpreender positivamente e negativamente. Certo dia, durante a aplicação de uma avaliação de filosofia, enquanto "passava" a lista para os alunos assinarem, notei alguns nomes diferentes ao fim da lista. Os nomes se destacavam principalmente pelo fato de serem nomes de super-heróis dos quadrinhos. 

Não vou discursar sobre o que eu "deveria" ter feito, ou o que outros professores teriam feito quanto ao gesto que de certa maneira demonstra "indisciplina" ou "descaso" dos alunos quanto à seriedade de um documento que é a lista de presença - é evidente que deixei isso claro! Apesar de tal gesto ter se manifestado apenas como "brincadeira" dos alunos, lembrei-me das crianças que, como nos ensina o filósofo Nietzsche, levam muito a sério suas brincadeiras. 

Denominar-se como super-herói significa dizer que se tem super-habilidades para lidar com determinadas situações, ou que há necessidade de super-habilidades para lidar com estas situações. Não basta "ser" humano para "ser" aluno, tem que "ser" super-herói. Tem que "ser" super-herói para estudar em escolas públicas, muitas delas pichadas, depredadas e frequentadas pelos invasores que veem nestas escolas uma oportunidade para comercializarem seus produtos e se socializarem. 

Por outro lado, será que é necessário ter super-habilidades para permanecer sentado durante um longo período para estudar, ler, interpretar, pensar, e deixar de lado o namoro, o computador, o futebol e o sofá de casa?

O assunto é complexo porque está em jogo a ressignificação de métodos de estudo, de teorias da educação que não acompanharam as mudanças tecnológicas e culturais, e neste caso cabe também perguntar: a educação deve acompanhar as mudanças tecnológicas? Em que sentido deve haver uma mudança na estrutura curricular, nos métodos de ensino e na estrutura física e material do ensino?

Se há necessidade de super-habilidades para "ser" aluno, vejo igualmente a necessidade de o professor "se tornar" um super-herói para "continuar fazendo o que faz" e, sobretudo, para acompanhar as mudanças, "se virar" para competir com o "twitter", o "facebook", o "youtube" e o "whatsApp".

Escolas "salvam" muitas crianças do tráfico, da morte precoce. Professores ainda carregam um grande significado para muitas crianças e jovens. Professores ainda são modelos para muitas crianças que veem neles, exemplos de pais, de trabalhadores e também de mestres.

Porém, enquanto há o crescimento da demanda por professores que devem "se virar" para competir com as redes sociais, para serem pais, psicólogos, pedagogos, educadores, assistentes sociais e desempenharem tantas outras funções além da construção do conhecimento, não há um crescimento da valorização desta função em nossa sociedade, sobretudo pelos nossos representantes políticos.

Acredito que os meios de comunicação e as redes sociais têm como principal função a de informar, compartilhar notícias, vídeos etc. Evidente que neste processo há também uma divulgação de conhecimento, ou talvez uma "construção" de conhecimento. Mas em geral o que notamos é um excesso de informação. Assim, encontramos na sala de aula, alunos que sabem falar sobre tudo, mas que não têm conhecimento sobre nada. Seus discursos não se sustentam, não conseguem manter um debate porque não leram um livro, não pesquisaram sobre o assunto, não "construíram" o conhecimento, porque receberam informações desenfreadas e irrefletidas através das "redes". 

Com isto, não estou desvalorizando a tecnologia, nem desprezando os instrumentos que muito nos ajudam a compartilhar o conhecimento. Como professor posso utilizar o twitter ou o google em sala de aula para uma pesquisa com meus alunos, e o youtube como fonte e ilustração a respeito de um tema, ou mesmo como complemento das aulas. O que quero enfatizar é a necessidade do professor, a importância do professor, daquele que estudou, se debruçou sobre livros, ideias, autores, teorias, enfim, daquele que se cultivou nas artes, na história e no conhecimento para poder construir, juntamente com seus alunos, o conhecimento. 

O computador é interessante: é fácil mudar de vídeo quando algo nos desagrada, ou trocar de música, ver uma foto ou outra, conversar com pessoas diferentes ao mesmo tempo enquanto vemos televisão. Mas ainda não inventaram algo melhor que o "ser" humano para "mediar" o conhecimento. Como "construir" o conhecimento com apenas alguns caracteres? Como "formar-se" apenas através de notícias de hora em hora comumente divulgadas pelas tv's e redes sociais? Você deseja apenas informar-se, ou também formar-se?

Se há uma desvalorização do professor por parte da nossa política, há também, na mesma medida, uma desvalorização do aluno e do estudante. 

Nesta história, percebo que não se pode intitular nem o professor, nem o aluno como super-herói. Ambos são vítimas de um sistema histórico que desvaloriza o "ser" humano. Precisamos disseminar a importância da construção do conhecimento, e não apenas da construção de coisas, mesmo porque esta última depende da primeira. 

Constata-se que professores e alunos são vítimas. Mas vítimas de quem? Seria fácil mergulhar num processo de vitimização, responsabilizando apenas nossos representantes políticos por isso. Cabe a cada pessoa conscientizar-se das suas escolhas, daquilo que cada um elege para si como prioridade. E, em que medida espera-se e há um desejo legítimo de libertação do oprimido, como escreveu o educador Paulo Freire. E, se o oprimido não se sabe oprimido, como libertá-lo desta opressão? Quem, melhor do que aqueles que ensinam a ler, a escrever, e a interpretar o mundo? 

(Marvel Comics)

sábado, 27 de julho de 2013

Sim, nós podemos!

Por Anderson Araújo
(Para Benjamim e Chico Pinheiro)
Sim, nós podemos: gritar "é campeão!"
Porque nosso grito nasce no peito preto e branco, incansável, a bombear o sangue alvinegro: o sangue de Dario, o sangue de Reinaldo!
Sim, nós podemos: cantar "vou festejar!"
Porque nossa festa é desmedida igual ao nosso amor pelo Atlético! 
Sem medida, sem cálculo do número de títulos, de vitórias ou de derrotas.
Porque nós somos atleticanos e isso basta!
Sim, nós podemos: amar o título de Campeão da América!
Porque não se trata de apenas mais um título, não se trata de matemática!
Trata-se de paixão! 
Sim, nós podemos: soltar fogos de hora em hora!
Porque o Galo canta quando quer, e anuncia com seu canto que é dia na América, e que o Sol brilha como nunca no Planeta Terra!
Sim, nós podemos: dizer que não torcemos para um time, mas apenas "somos atleticanos".
Porque ser atleticano é viver intensamente a paixão de ser alvinegro, de ser preto e branco!
Sim, nós podemos: gritar "galo doido"! Porque é comum denominar de "doido" aquele que vivencia suas emoções desmedidamente!
Sim, somente nós podemos: cantar "Somos Campeões do Gelo e da América"!
Porque somos uma nação que canta apesar do frio, com o frio; no gelo, na terra, que canta sempre: "Vencer, vencer, este é o nosso ideal"!
Sim, nós podemos: carregar no coração alvinegro:
a raça de Diego Tardelli, 
a inteligência de Ronaldinho, 
a santidade de Victor, 
o encantamento de Bernard, 
a artilharia de Jô, 
a bravura de Pierre, 
a audácia de Réver,
o grito de Leo Silva,
a força de Leandro Donizete,
a confiança de Guilherme,
a paixão de Luan,
a superação de Marcos Rocha,
a experiência de Gilberto Silva,
a competência de Kalil,
e a fé do Cuca.
Sim, nós podemos: nosso time é imortal!
Foto de Rodrigo Clemente/E.M


terça-feira, 25 de junho de 2013

A "energia política" dos protestos: coerências e incoerências

Por Anderson Araújo
No país do futebol, o brasileiro deixa o campo e vai às ruas! As manifestações começaram com o objetivo de reduzir a tarifa do transporte coletivo. Objetivo legítimo, manifesto pacífico também legítimo e, para nossa surpresa, objetivo alcançado! Está aí, exercício da democracia; se nossos representantes não nos representam, protestamos!

Entretanto, é hora de parar e pensar. É o momento de avaliar, analisar e decidir se estas manifestações devem continuar. Sim, a demanda é enorme: hospitais, saúde, melhoria do transporte público, a CORRUPÇÃO. Parece-me que as manifestações perderam o foco, viraram modismo, e o pior, deram espaço para oportunistas, pessoas que não lutam pelo país, mas tão somente pela sua carreira... política! Prova disso é o fato de tomarem um partido ou cargo político, mais especificamente, a presidenta da república como "bode expiatório". 

Um povo carente e cansado de ser enganado, continua sendo manipulado! A rima se justifica por alguns motivos: 

1) As manifestações começaram com um objetivo específico que foi alcançado. 
2) O ano de 2014 é um ano de eleições no Brasil, e não apenas de Copa do Mundo.
3) O brasileiro participa, de certo modo, do que em sociologia chamamos de mobilidade social, que seria a mudança de posição social do cidadão, ou pelo menos, o acesso a bens e serviços de qualidade que até então somente uma determinada classe de pessoas tinha.
4) A quem interessa a mobilidade social?
5) A quem não interessa a mobilidade social?
6) O governo federal criou novas universidades e aumentou consideravelmente o número de vagas nas universidades.
7) Facilitou o acesso do estudante de escola pública às universidades federais e particulares.
8) O governo federal anunciou que o pré-sal é do Brasil e que todo o dinheiro do pré-sal é para o brasileiro! (Nota-se que não se fala em privatização, ou permissão aos Estados Unidos da América para explorar o que é do brasileiro). Ah, fala-se em investir 100% dos royalties do petróleo na EDUCAÇÃO. 
9) A quem interessa ter todo este investimento na EDUCAÇÃO?
10) A quem NÃO interessa ter todo este investimento na EDUCAÇÃO?
11) As manifestações perderam o foco, os protestos são contra tudo!
12) As manifestações se intitulam apartidárias, sem influências de partidos. Você acredita nisso?

Entendo que todos os motivos supracitados merecem maiores esclarecimentos. Será que os protestos continuam coerentes? Nota-se que em nome da democracia, alguns grupos se tornam até antidemocráticos  ao pedirem o fim de partidos. Se não há partidos, há o quê? Ditadura! Há partidos porque há liberdade, liberdade para gostar de azul ou de branco, para apoiar o verde ou o vermelho, porque temos o direito de escolhermos quem vai nos representar.

As manifestações pacíficas conseguiram provocar a presidenta que prometeu não medir esforços para fazer o possível como presidenta para atender as solicitações das manifestações. Independentemente de partido político, somente o (a) Presidente da República não vai resolver o problema de todos os municípios, de todos os brasileiros. O Aécio não resolveria, Fernando Henrique Cardoso também não,  nem o Obama.

Não queremos a ditadura. Se você for às ruas para protestar, "investigue", se "informe" a respeito das pessoas que estão organizando o protesto. Veja se há um objetivo específico. As demandas são muitas, mas não resolveremos todos os problemas do país em algumas semanas de protestos. Alguns problemas são locais e os seus vereadores devem responder por isso, vá até eles. Assista às plenárias, as reuniões dos vereadores, dos deputados, investigue, proteste junto a eles no cotidiano. Estude. Leia. Pergunte. 

E o mais importante: não lute contra você mesmo nas ruas. Não lute contra os seus direitos. Não utilize a violência. Não negue a sua identidade. Vamos protestar, mas com consciência, sem ser usado por pessoas que sempre estiveram no poder, que sempre usufruíram dos benefícios do poder e hoje se incomodam com a mobilidade social, que hoje se incomodam ao verem o acesso do pobre às universidades federais, aos aeroportos, à cultura e a bens e a serviços que antes era restrito a um grupo "seleto" de pessoas. É fato que demandas consideradas essenciais ainda não são atendidas, como as da saúde. Mas o governo já foi "provocado" e passa a agir em caráter emergencial para resolver estas demandas.

Vamos aproveitar esta "energia política" para analisarmos, estudarmos, para continuarmos no exercício da democracia mais conscientemente, sobretudo através do voto. Aprendemos que o protesto pode nos garantir alguns direitos.  Mas não o protesto contra tudo e contra todos. Aprendemos que protestar contra tudo é o mesmo que protestar contra nada. Certamente, nossos direitos serão mais respeitados quando aprendermos a votar. Seguir a moda, simplesmente para "estar na moda" é o que o poeta Carlos Drummond dizia "é duro estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade" e pior, você acaba sendo marionete nas mãos de uma "marca", quer dizer, de um "partido".

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Protestos no Brasil, o "início de alguma coisa"

Por Anderson Araújo

Há cerca de 15 dias escrevi o texto "imaginações constrangedoras". Naquele texto, quis desabafar a minha angústia de assistir a uma realidade, no mínimo 'estranha', uma "Copa padrão FIFA" num país rico, com hospitais e escolas de padrão MISERÁVEL. De fato me sentia constrangido por não encontrar motivos para participar da "festa", quer dizer, da Copa das Confederações. No texto eu ainda destacava o "lado" positivo desta "festa": despertar o brasileiro, mostrar ao brasileiro que não somos pobres, mas mal representados!

Percebo com alegria que algumas das minhas imaginações deixaram de ser constrangedoras e tomaram as ruas através de cartazes, vozes, músicas e pés de milhares de brasileiros. Percebo com alegria que o brasileiro não se sentiu nem um pouco constrangido em ir às ruas e passar horas fora de casa, longe do facebook e do twitter, 'somente' para PROTESTAR! 

"Saímos do facebook" - são os dizeres de milhares de brasileiros, reproduzidos em cartazes e na pele dos filhos do Brasil que não fogem à luta! Por que fomos para as ruas? Porque cansamos de "assistir" a toda hipocrisia quase legalizada pelos nossos representantes políticos! Porque notamos que, se podemos construir estádios maravilhosos, também podemos construir escolas e hospitais. Porque percebemos que se podemos sediar uma Copa, também podemos melhorar o transporte público. Porque aprendemos com estádios "padrão FIFA" que o problema do Brasil não é falta de dinheiro!

"Saímos do twitter" porque nos engasgamos com uma Copa rica, entretanto doente e sem educação. Nossos olhares se deslumbraram com a beleza dos estádios, mas choraram com o descaso histórico dos representantes políticos com o brasileiro cansado de pagar impostos. 

Fomos às ruas porque não nos sentimos REPRESENTADOS, nem pelo partido X, nem pelo Y. Estamos nas ruas porque queremos realmente viver num país democrático, onde a voz da maioria seja ouvida, onde a  necessidade da maioria seja respeitada. Protestamos porque já não toleramos mais a impunidade, já não suportamos mais o "jeitinho brasileiro" comumente praticado pelos nossos políticos. Queremos divulgar para o mundo o "jeitão brasileiro": nossa arte, nossa natureza e nosso trabalho com honestidade e transparência! 

As ruas de todo o Brasil demonstraram nos últimos dias que necessitamos de muita coisa; que muitos ainda não sabem exatamente o que precisam, mas têm certeza de que "precisam", de que lhes faltam algo, e principalmente, merecem algo melhor do nosso país! Todos temos a certeza de que não queremos pessoas que legislem em benefício próprio! Os estádios "exalaram" um odor desagradável, provocando enjoos e vômitos pelas ruas do Brasil...

Não sabemos o que tudo isso provocará no futuro do nosso país, e qual a verdadeira dimensão desses manifestos, mas parafraseando o filósofo Deleuze, eu diria que o que conta é que estamos no início de alguma coisa!

(Fernando Birri citado por Eduardo Galeano)

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Imaginações Constrangedoras

Por Anderson Araújo
(Para Guilherme Colombini  e Wanessa Lima)
Há meses pretendo escrever sobre o que penso em relação ao Brasil nas vésperas da Copa das Confederações, sobre este Brasil que se prepara para sediar uma Copa do Mundo. Não gostaria de ser desagradável, pessimista, alguém que não consegue perceber "o lado bom" das coisas. Sempre tento dar um novo significado às coisas que me aparecem como "feias", "tristes", "negativas", postura que aprendi lendo o filósofo Nietzsche.

Todo mundo já deve ter pronunciado a frase "imagina na Copa?" alguma vez nos últimos meses. Principalmente em conversas sobre trânsito, filas, comércio, hospedagens, e agora sobre os estádios, quer dizer, ARENAS "padrão FIFA". 

Perdoem-me, mas quem não se "impactou" ou não se sentiu "incomodado" com o valor gasto nas obras dos estádios, não tem consciência de como vivem ou sobrevivem milhões de brasileiros. Dinheiro público investido em "arenas". Sim, há melhorias que veremos a médio ou longo prazo, como algumas modificações no trânsito, implantação de "BRT" etc, mas pouco significativas diante da carência do povo brasileiro. 

Continuo tentando ver o "lado bom", porém, até as entrevistas do técnico da Seleção Brasileira de Futebol, desde o anúncio da sua contratação conseguiram "atrapalhar" ainda mais a "festa", mostrando-se sempre mal-educado, ensinando com isso que um técnico, um chefe, um líder autoritário, não pode ser questionado, não aceita opiniões e que, independentemente dos resultados, vai se manter no "cargo". 

As propagandas tentam constranger todos os críticos desse evento que o Brasil vai sediar. Elas sugerem que pessoas que perguntam "imagina na Copa?" são pessimistas, "gente" que não gosta de festa. 

Imagina a festa dos grandes empresários, dos nossos representantes políticos e das empresas que financiam o espetáculo; imagina a festa das empresas que já administram estádios "padrão FIFA" reformados e construídos com dinheiro público... 

Que festa vai fazer o trabalhador que, após um longo dia de trabalho, continuará enfrentando um trânsito desumano na volta para casa? A verdadeira questão deveria ser: "Quem terá condições de participar dessa 'festa' que vem sendo planejada com tanto empenho pelos nossos representantes políticos e pelas empresas?"

Nesta minha tentativa de abordar o assunto sem ser constrangido pelas propagandas que me impedem de ser pessimista em relação à "festa", consegui dar um novo significado e ver o "lado bom" desse evento. Notei que todas os preparativos para a "festa", inauguração de estádios, e obras que se estenderão até 2014, servem para "impactar", ou em outras palavras, "acordar" todos aqueles que ainda não perceberam a capacidade que o Brasil tem de ser um país melhor. Indiscutivelmente o Brasil tem muita gente com disposição para trabalhar, construir, ajudar, e de melhorar a situação do seu próprio país e tem hoje, ao contrário de muitos países que vivem uma enorme crise financeira, dinheiro e investimento de grandes empresas!

Imagina se os nossos governantes se esforçassem para reformar e construir, creches, escolas e hospitais? Imagina a festa!

Imagina se fossem criadas várias equipes e comissões para investigarem efetivamente o funcionamento das nossas escolas e dos nossos hospitais? Imagina a festa!

Imagina se o Estado fizesse uma parceria com as empresas para construir escolas e hospitais? Imagina a festa!

Imagina se nós, brasileiros, tivéssemos realmente um espírito nacionalista e fizéssemos reivindicações pela saúde e pela educação aos representantes que elegemos? Imagina a festa!

Imagina se nós tivéssemos tanto interesse pelo desempenho dos nossos representantes políticos igual ao que temos pelo desempenho da Seleção Brasileira de Futebol? Imagina a festa!

Imagina se milhares de brasileiros deixassem de sofrer e de morrer nas filas de hospitais? Imagina a festa!

Imagina se você tivesse uma escola pública de qualidade que lhe capacitasse para entrar numa Universidade Federal sem ser necessária uma política de cotas? Imagina a festa!

Imagina se os impostos que o brasileiro paga todos os dias se transformassem em serviços gratuitos de qualidade para o brasileiro? Imagina a festa!

Constrangimento é imaginar que só poderemos fazer a festa no período da Copa do Mundo!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A Humanidade na Renúncia do Papa

Por Anderson Araújo
A renúncia do Papa Bento XVI pegou não apenas o "povo" de surpresa, mas também a Igreja Católica no mundo inteiro. A infalibilidade papal pode significar outras coisas no âmbito político e religioso, mas para mim tem mais a ver com humanidade. Independentemente dos motivos que levaram Bento XVI a renunciar, e independentemente de você ser católico ou não, e de o Papa significar alguma coisa pra você, certamente este "evento" tem muito a nos dizer. 

Como líder religioso, influencia, embora com menos intensidade do que no passado, mesmo países e povos que não são considerados católicos. O Papa, sobretudo a partir de João Paulo II, passou a ser um "mediador" não somente entre os homens e Deus, mas principalmente um mediador de conflitos entre os homens, função que João Paulo II tentou desempenhar em alguns momentos. 

De um lado esta renúncia provoca nas pessoas, mesmo naquelas que não são católicas, uma sensação de desamparo, desolação! "Um líder renunciar?" Ou, em outras palavras, "desistir"? As pessoas não se cansam de procurar em seus líderes religiosos, consolo, setas, ou caminhos que levem-nas a encontrar a paz, o consolo e até mesmo a salvação da alma. 

De outro lado, a declaração de Bento XVI me soa bastante humana, demasiada humana. É como se ele dissesse: "sou homem, humano, falível, ao contrário do que boa parte das pessoas pensam". "Tenho medo, também fico doente". "Envelheço". "Sinto-me fraco também na velhice". E talvez Bento XVI pretenderia dizer também que: "me sinto só", "me sinto algumas vezes desolado, sem Deus". 

Sua renúncia, Bento XVI, poderia significar não apenas discordância entre o senhor e os membros da Igreja, o que seria apenas uma discordância política, teológica e ideológica. Poderia significar também: "Cansei, não dou conta mais, é muita violência, é muita desumanidade, é muito egoísmo no mundo, não dou conta mais de 'representar' aquele que daria conta de carregar tudo isso". 

Para mim, volto a dizer, independente das causas que motivaram esta decisão, a voz de Bento XVI significa a voz dos excluídos, dos miseráveis, daqueles que sofrem, que imploram por ajuda, e mesmo das pessoas que têm tudo, bens materiais, emprego, sucesso, carreira, mas não têm amor, não se sentem amadas, enfim, que diversas vezes têm vontade de dizer: "não dou conta mais". "Cansei". "Sou humano". 

Muitos líderes, religiosos, chefes, pais de família e muita gente que ocupa posições de destaque, ou cargos de responsabilidade e de "poder" já tiveram e terão vontade de renunciar. Ter esta vontade ou realizá-la me soa muito humano. Talvez um dos muitos ensinamentos que este evento a princípio nos traz é este: somos falíveis, somos humanos, amamos, sonhamos, conquistamos, trabalhamos, lutamos, e queremos o melhor para o mundo e para nós, mas também cansamos, sofremos, e "desistimos". E isso não prova que você não esteja preparado para liderar, mas que você entende de gente, entende de humanidade.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Mineirão, Futebol e Educação

Por Anderson Araújo
O Oswaldo Montenegro disse em uma palestra que brasileiro entende de futebol porque acompanha futebol. Se acompanhasse a política e a economia também entenderia de política e economia. Complemento: analfabetos, pessoas com pouca escolaridade, graduados, doutores etc, todos não apenas acompanham futebol, mas são apaixonados por futebol. É verdade que esta paixão possui gradações: alguns se apaixonam, matam e morrem pela paixão, outros apenas são fiéis, cúmplices da sua paixão, e este último 'tipo' de paixão já seria bastante interessante e saudável.

Há algum tempo me sinto incomodado com os anúncios dos projetos para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Há algum tempo me sinto apaixonado pelo futebol. Há algum tempo me sinto também frustrado com o futebol. Temos "o Brasil em obras" voltado para um evento mundial que é a Copa. Tais obras certamente serão benéficas para a população brasileira: expansão de metrôs, rodovias, criação e reforma de estádios etc.

Mas me preocupo muito e me envergonho quando vejo empresas privadas lucrando escandalosamente com um espetáculo mundial que ocorrerá no Brasil. Rodovias e estádios de futebol é muito pouco para um povo tão carente e sofrido como o povo brasileiro. Cada lar de família brasileira já deve ter visto um parente ou amigo morrer por falta de atendimento ou tratamento médico. Muitos brasileiros sofrem com passagens caras e viagens longas no transporte público. E a educação? Parece que falar em educação no Brasil é um mantra que anestesia ainda mais o povo brasileiro e que se tornou piada nos ouvidos dos nossos parlamentares.

Já escrevi em outros textos que futebol liberta, educa, restaura muita gente. Muita criança só vai à escola por causa do futebol. Muita criança só estuda porque precisa ter boas notas para continuar na "escolinha" de futebol. 

Em Minas Gerais há três grandes Clubes de futebol: AméricaAtlético e Cruzeiro. Grande rivalidade, sobretudo entre atleticanos e cruzeirenses, cada torcida tem o seu jeito peculiar de torcer e falar do seu time. Apesar de possuírem as maiores torcidas e mais títulos que o América, nem o galo e nem a raposa possui um estádio. O Galo joga na "Arena" Independência, e o Cruzeiro vai jogar no Mineirão, ambos por tempo determinado, determinado por empresas privadas! É verdade que a Arena Independência pertence ao América, mas é administrado por uma empresa privada. 

Há alguns dias a imprensa mineira vem debatendo um problema: - Se os clássicos no Mineirão serão de torcida única ou de torcida dupla.  O problema não é simples. Não é apenas uma questão de contrato ou de segurança. Hoje eu ouvi o presidente do Clube Atlético Mineiro, Alexandre Kalil, em entrevista ao repórter Bruno Azevedo, na rádio Itatiaia falar a respeito desse assunto. Idiossincraticamente, o presidente Kalil confirmou o que me incomoda: "O mineirão não é dos mineiros. O Atlético e o Cruzeiro são dos mineiros. O mineirão é de uma empresa privada que quer liquidar o futebol mineiro"

O Alexandre Kalil disse em tom de desabafo sobretudo para mostrar que não é simplesmente uma questão de "quem manda aqui é o Atlético ou é o Cruzeiro", mas sim uma questão política que envolve muito dinheiro que não será nem dos Clubes Mineiros nem do governo de Minas Gerais, mas da empresa Minas Arena. Nesse sentido, Kalil disse: "O Mineirão é o orgulho de uma construtora, da Minas Arena, não é orgulho dos Mineiros... o Mineirão é de uma empresa privada, não é dos Mineiros".

Como torcedor quero expressar o que penso a respeito do problema torcida única ou dupla. Primeiramente sobre o Independência: É IMPOSSÍVEL um clássico Atlético X Cruzeiro de torcida única. Não há segurança no trajeto do centro da cidade até o estádio, além de a localização do estádio ser mais favorável para o embate entre torcidas rivais, principalmente porque o seu entorno é tomado por residências. O metrô que seria o meio mais fácil de acesso ao estádio não comportaria duas torcidas em dia de clássico, certamente haveria tragédia! Quanto ao Mineirão, tradicionalmente comportou duas torcidas em dias de clássico. Para isso demanda muito trabalho, esforço, planejamento e estratégia por parte da polícia, do governo e dos dirigentes dos Clubes para "garantir" a paz entre os torcedores.

Vou anestesiar os ouvidos de alguns e soltar uma piada nos ouvidos de outros. Mas penso que o problema não é a segurança, mas a EDUCAÇÃO. Muitos torcedores esquecem-se de que são humanos e de que os torcedores rivais também são humanos em dias de clássico. 

Uma amiga me disse que o Lula "deu" a comida para o povo brasileiro ao tirar milhares da miséria. E agora é a vez da Dilma de "dar" educação. Se não deram isso efetivamente, independentemente da nossa empatia por estas personalidades, com certeza deram passos significativos para o fim da miséria e o crescimento das Universidades. Estudar de "barriga vazia" não dá. O que você vai pensar com fome? Em política, respeito, cidadania? Não, você vai pensar apenas em pão, carne, bolo etc! O brasileiro está comendo mais e melhor. Houve um crescimento das vagas nas Universidades Federais. Mas não apenas a Dilma, todos os nossos políticos precisam se preocupar ainda mais com as escolas e com a educação em geral, da creche ao ensino superior. Mais livro para os alunos, mais escolas, mais formação para os professores, e um salário que não HUMILHE os educadores - e quando isso estiver em primeiro lugar - talvez será mais fácil falar em segurança nos dias de clássico, será mais fácil "ensinar" a consumir, ensinar a votar, ensinar a comer, enfim, ensinar a RESPEITAR! 

O Kalil me incomodou ainda mais. Falar que o MINEIRÃO não é dos MINEIROS é falar que o BRASIL não é dos BRASILEIROS. Que os dirigentes do futebol mineiro, nossos parlamentares e o governador de MG resgatem o que pertence aos mineiros!