Por Anderson Araújo
Geralmente nos enganamos quanto aos conceitos de poder e violência, julgando-os como se fossem sinônimos. Mas, temos que nos conscientizar de que não é a mesma coisa! Inclusive, para começo de conversa, onde o poder se encontra não há violência, e o inverso também é verdade: onde há violência não existe o poder.
Lembremo-nos de Hitler na Alemanha, durante o regime nazista, e, sobretudo das ditaduras que existiram no último século. O que há de comum nesses regimes? O uso de instrumentos como forma de tomar e de assegurar o poder!!! A presença de instrumentos num governo nos ajuda a perceber se o que existe é o poder ou a violência. De acordo com a filósofa Hannah Arendt, a Violência se distingue do poder por possuir um caráter instrumental, ou seja, se há emprego de instrumentos como forma de tomar ou assegurar o poder, o que existe de fato é a violência.
O uso de armas ou de torturas só reforça a ausência de poder. Se alguém necessita de armas para impor uma idéia ou para alcançar alguma coisa não existe o poder.
O poder, para que seja legítimo e reconhecido enquanto tal, necessita de números, quer dizer, de apoio. No Brasil, por exemplo, o poder do presidente Lula é legítimo. Por quê? porque o atual presidente não usou nem armas nem violência para alcançar o poder. O presidente Lula só se encontra no poder, e pelo segundo mandato, devido ao número de pessoas que o apoiou através do voto.
O poder é consentimento, depende do apoio das pessoas, ou do voto. Enquanto a violência faz uso de instrumentos para alcançar o que deseja, por exemplo, quando um criminoso me rouba a carteira com a ajuda de uma faca, ou rouba o banco com a ajuda de uma arma.
Assim, a violência se manifesta agressivamente, e por isso mesmo, nos assusta, e nos deixa muitas vezes imóveis. O ser humano é tentado a recorrer à violência para alcançar o poder. Vejamos um exemplo que pode ocorrer em sala de aula:
O professor está explicando um conteúdo ou trabalho. É “o momento legítimo” para que ele exerça o seu poder. Alguns alunos conversam durante a explicação. Um aluno até grita para fazer com que os colegas escutem-no: estamos diante de um ato violento. Aumentar o tom de voz para ser reconhecido é uma forma de violência.
Outra coisa que precisamos deixar bem claro também é que o poder não pertence apenas a uma pessoa. Podemos ver isso através dos seguintes exemplos. O professor, ao permitir que um aluno fale e expresse as suas idéias, permite com isso que o poder circule. Numa empresa, o chefe, líder ou gerente também faz com que o poder circule, ao permitir que os seus funcionários participem de reuniões, manifestem suas opiniões e tomem decisões, ainda que restritas à sua àrea de atuação; e essa é a segunda principal característica do poder: ele acontece numa relação, nunca permanece “nas mãos de uma só pessoa”.
Em debates e discussões, é comum algumas pessoas alterarem o tom de voz, pensando que, por meio do grito, manifestariam o seu poder, mas não deixa de ser uma atitude de violência. Estamos diante de um falso poder quando existe medo numa relação e não o respeito.